Diego Bargas, jornalista da Folha de São Paulo, foi alvo de ofensas incitadas por humorista nas redes sociais
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Diego Bargas, jornalista da Folha de São Paulo, foi alvo de ofensas incitadas por humorista nas redes sociais

Após publicação de entrevista realizada por Diego Bargas, à época funcionário da Folha de São Paulo, com o humorista Danilo Gentili, o jornalista foi alvo de numerosas mensagens agressivas sobre suas posições políticas por parte de seguidores do humorista. O jornalista foi demitido e três dias depois a Folha publicou uma matéria justificando que a demissão havia ocorrido porque Diego violou o Código de Conduta do jornal nas redes sociais, no qual estava previsto que o jornalista deveria “evitar manifestar posições político-partidárias”.

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Entenda o caso

No dia 4 de outubro de 2017, o jornalista Diego Bargas foi escalado pela Folha de São Paulo para realizar uma entrevista com o humorista Danilo Gentili sobre o filme - “Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola” - que estava sendo lançado. A matéria foi publicada no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo. Posteriormente, Danilo Gentili publicou posts em suas redes sociais afirmando que a matéria publicada pela Folha não era isenta e que o jornalista seria militante de um partido político, bem como estimulando que seus seguidores procurassem o perfil de Diego nas redes sociais para se certificarem da posição política do jornalista.

Após receber incontáveis mensagens agressivas em seus perfis sociais, o jornalista decidiu contatar o seu superior hierárquico, responsável pela edição da Folha Ilustrada, para relatar as ameaças que estava recebendo. No entanto, a Folha não prestou o devido e necessário suporte para que Diego pudesse lidar com a situação. Ao contrário, no dia 13 de outubro de 2017, Diego foi demitido.

Três dias depois da demissão do jornalista, no dia 16 de outubro de 2017, a Folha de São Paulo publicou uma matéria intitulada “Humorista e seguidores atacam repórter da Folha em redes sociais”, na qual justificou a dispensa de Diego, nos seguintes termos: “Bargas foi desligado do jornal na última sexta-feira (13) por, segundo a Direção de Redação, ter desrespeitado orientação reiterada sobre comportamento nas redes sociais. Os jornalistas da Folha são orientados a evitar manifestar posições político-partidárias e a não emitir nas redes juízos que comprometam a independência de suas reportagens”.

Em dezembro de 2017, o jornalista Diego Bargas protocolou uma Reclamação Trabalhista contra a Folha pedindo que a dispensa fosse declarada nula e requerendo a sua reintegração na função de jornalista. Além disso, também pleiteou indenização por danos morais no valor de 30.000 reais. No dia 22 de maio de 2018, foi realizada audiência no Fórum Trabalhista de São Paulo, na qual foi acordado o pagamento de R$ 10.000,00 pela Folha de São Paulo ao jornalista Diego Bargas.

Nossa posição

A ARTIGO 19 apresentou parecer na ação trabalhista demonstrando preocupação com o caso de Diego Bargas, tendo em vista que o respeito ao direito à liberdade de expressão dos próprios comunicadores é essencial em uma sociedade democrática, conforme assegura a legislação nacional e os padrões internacionais de direitos humanos. De outro lado, a demissão de Diego também representa uma violação mais ampla ao acesso à informação pública de toda a coletividade.

A demissão de Diego Bargas aponta que a Folha de São Paulo descumpriu a sua responsabilidade de garantir a proteção dos jornalistas em um momento de vulnerabilidade causado pela publicação de matérias pelo jornal. Em uma sociedade verdadeiramente democrática, as empresas jornalísticas devem proteger os seus funcionários, principalmente em momentos de fragilidade e exposição.

Além disso, a ARTIGO 19 entende que a medida tomada pela Folha de São Paulo possui efeito de autocensura para outros comunicadores, uma vez que a resposta dada pelo jornal colocou o jornalista em situação de ainda maior instabilidade e exposição diante das medidas virtuais fomentadas pelo humorista Danilo Gentili.

Documentos

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